10673 Interpretação de Texto > Língua Portuguesa >
Assinale a resposta CORRETA. Depreende-se do texto que uma das qualidades do verdadeiro chefe é ser:

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“A arte de se fazer ajudar”

[…]
O chefe não pode fazer tudo. Está em situação de ver ao longe e de cima. Deve consagrar-se à meditação, à elaboração de planos. Caso se perca no pormenor, diminui-se, encurta horizontes, cerceia, à amplitude da sua visão, tudo que sirva à elaboração dos fins intermediários. A profundeza da meditação coaduna-se mal com a minúcia das deduções de segunda ordem.

Para Lyautey, o comando exerce-se de cima para baixo, em todos os escalões da execução. Executar é, por seu turno, comandar. Segue-se que comandar é delegar, em parte, seus poderes de chefe; é ceder aos subordinados seu terreno de comando. Concepção concreta e viva, não de um chefe e multidão, mas de um chefe e chefes. Uma pirâmide de chefes!
[…]

Quantas vezes, diz M. de Tarde, temos ouvido Lyautey insurgir-se, em termos violentos, contra essa falsa mística do chefe que faz tudo por si mesmo, do chefe que só em si confia, do chefe que trabalha 18h diárias. Esse pretenso chefe, dizia ele, não sabe mandar. Se ele próprio faz tudo, é porque não sabe ensinar os outros a trabalhar e a ajudá-lo; se apenas confia em si, é que não sabe utilizar suas horas. Um chefe, dizia ainda, jamais está absorvido; tem sempre tempo.

O chefe não se ocupa dos pormenores a que podem dedicar-se tão bem como ele e melhor do que ele os agentes subalternos, reservando- se para o estudo dos problemas gerais que só ele pode resolver. Acha-se tolhido, portanto, de julgar que tal coisa está mal feita, se não lhe tocou. Longe de se agastar, à medida que as responsabilidades crescem, trata de assegurar a liberdade de pensamento e de ação mais necessária agora ao exame dos fins supremos; e, porque não lhe resta nunca muito tempo nem forças para as questões que solicitam constantemente sua atenção pessoal, desembaraça-se de toda ocupação que não é estritamente obrigado a realizar por si mesmo. Assim, isolado, não produz, mas faz tudo, na condição de ‘nada fazer, mas de tudo mandar fazer’.

A marca de um verdadeiro chefe é que ele sabe descobrir colaboradores e utilizá-los pelo melhor de suas aptidões. Pode até sustentar-se que, quanto mais hábil é o chefe nessa arte, tanto mais destinado está a subir, porque é nisso que se nota muitas vezes a diferença dos chefes: este sabe tirar dos outros o que aquele seu vizinho não chegará a obter.

O erro do chefe estaria em preferir atuar por si mesmo a confiar em seus colaboradores, receando que o encargo fosse mal desempenhado. Por um lado, o colaborador assim colocado à margem perde toda iniciativa e todo gosto da ação; por outro lado, não podendo empenhar-se em tudo, concentra seus cuidados em um pormenor e acaba por perder de vista o conjunto de que tem responsabilidade.

Um chefe deve admitir que a tarefa por ele dirigida seja menos bem executada do que se fosse ele que a realizasse; mas dia virá – e mais cedo talvez do que pensa – em que seus colaboradores, entregando-se ao trabalho que lhes é confiado, irão se meter em brios e realizá-lo melhor, como ele não seria capaz. O papel do chefe não é substituir seus adjuntos: ‘Tenho meus técnicos, dizia Lyautey; eu sou o técnico em ideias gerais.’

A grande habilidade do verdadeiro chefe é saber incutir, em seus colaboradores, reflexos em conformidade com ele. Assim, tendo os chefes aprendido a agir e a decidir por si mesmos como o chefe o teria no lugar deles, não será necessário multiplicar ordens com a precisão que suporia o conhecimento das ínfimas minúcias; comunicar a seus colaboradores a diretriz, de modo que espontânea e instintivamente eles realizem o que o chefe teria feito no lugar deles.
[…]

Mandando-se fazer, multiplica-se a realização; entrando-se em pormenores, em vez dos responsáveis que se desgostam, perdem-se tempo e autoridade. Pensar-se que se faz ‘melhor’ é o maior inimigo do bem.

O chefe que quer fazer tudo por si mesmo, e não sabe cercar-se de colaboradores capazes de o substituírem, correrá o risco de ver sua obra soçobrar e seus serviços desorientados no dia em que, por motivo de doença ou outros quaisquer, tiver de ausentar-se por espaço de tempo prolongado.
[…]

O verdadeiro chefe se empenha em descobrir todas as qualidades de seus colaboradores, em apelar para todas as suas possibilidades e em colocar, assim, seu talento a serviço do conjunto.

Há na vida duas categorias de seres: aqueles que absorvem – os parasitas – e aqueles que irradiam – a elite. Rodeei-me sempre de irradiantes, que decuplicaram minha energia.
[…]”

COURTOIS, Gaston. A arte de se fazer ajudar. In: ___. A arte de ser chefe. 2 ed. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2012, p. 126-128.
Disponível em: Acesso em: 15 jan. 2018.

Louis Hubert Gonzalve Lyautey foi um militar francês que se destacou nas guerras coloniais e foi o primeiro residente geral do Protetorado Francês de Marrocos de 1912 a 1925, ministro da guerra durante a Primeira Guerra Mundial, Marechal de França em 1921.

a) dissipado.
b) precavido.
c) cioso.
d) minudencioso.

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