11222 Classes de palavras > Língua Portuguesa > CFO - Prova 2022
Sobre o primeiro parágrafo do texto, NÃO se pode dizer que:

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Torre de Babel – história baseada em fatos reais (só que ao contrário)

O mito da Torre de Babel conta por que existem tantas línguas no mundo. Nele, uma população unida e monolíngue decide construir uma torre que alcance o céu. Deus, irritado com a prepotência das pessoas, confunde a língua delas para que não se entendam mais e espalha as línguas pelo mundo.

Mito linguístico por trás dessa história: falar uma língua é o ideal. Falar muitas línguas é ruim, pois confunde e separa.

A narrativa de Babel talvez seja uma alegoria do que realmente pode ter ocorrido com as línguas humanas, só que os autores entenderam errado: não foram as muitas línguas que causaram a separação das pessoas, mas a separação é que deu origem a muitas línguas.

Quanto mais falantes uma língua houver e mais espalhados geograficamente estiverem, mais distantes se tornarão seus jeitos de se comunicar. Grupos separados e em contextos diferentes acabam adaptando a língua às suas realidades particulares e, com o tempo, a diferença entre seus dialetos se torna tão grande que um grupo já não compreende mais o outro. Temos, então, duas novas línguas. Foi mais ou menos assim que o latim se tornou português, espanhol, francês, italiano e outras vinte e poucas línguas. O processo é acelerado quando falantes de línguas diferentes entram em contato, pois elas incorporam elementos umas das outras, e daí às vezes nascem novas línguas. A língua crioula haitiana surgiu mais ou menos assim.

De volta ao mito, é importante esclarecer que, ainda que todas as línguas do mundo venham de uma só língua (não a de Babel, claro), isso ocorreu muito antes do surgimento de qualquer sociedade organizada. E é muito provável que tenham sido diversas “línguas-originais”, já que por mais de 2 milhões de anos (95,5% da existência dos humanos), fomos apenas vários bandos pequenos de caçadores-coletores nômades e desencontrados. A escrita só surgiu há 5 mil anos. Se a história da humanidade fosse uma pessoa completando 70 anos hoje, é como se ela só tivesse aprendido a ler e escrever um mês e meio antes desse aniversário.

A crença por trás de “uma língua = ordem; mais de uma língua = desordem” tem a ver com poder e dominação. É mais fácil controlar os subjugados se todos falam uma só língua – melhor ainda se for a do dominador. Essa crença alimenta outro mito: o de uma nação, uma língua. Embora a maior parte do mundo seja bilíngue e praticamente todos os países tenham mais de uma língua, a ideia que querem que compremos é a de que cada país fala uma língua: no Reino Unido é o inglês, na Itália é o italiano e no Brasil é o português. Deixemos essas fake news de lado e prestemos atenção aos fatos: no Reino Unido se fala inglês e outras 15 línguas, na Itália se fala italiano e outras 34 línguas e no Brasil se fala português, pomerano, talian, kaingang e outras 214 línguas. Sim, mais de duzentas!

[…]

Ah! Só mais uma coisinha: no mito de Babel, Deus não amaldiçoou as pessoas ao lhes dar muitas línguas. Ele as salvou do tirano monolíngue que queria que construíssem uma torre para chegar a lugar nenhum.

Autor: Renan Castro Ferreira. Graduado em Letras – Licenciatura em Língua Inglesa e Literatura (2010) e Mestre em Letras – Estudos da Linguagem (2018) pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/tesouro-linguistico/2021/06/.

a) “nele” tem como referente “Torre de Babel” e o referente do pronome “delas” é “pessoas”.
b) a expressão “por que” é formada pela preposição “por” seguida do pronome interrogativo “que”.
c) a preposição “de” tem valor semântico de posse.
d) no parágrafo ocorre colocação pronominal antes do verbo em razão de uma palavra de valor negativo.

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    Explicação do Professor:

    Houve recursos por parte dos candidatos que solicitavam a anulação da questão, por considerar que a alternativa “C” também está correta, uma vez que a preposição "de" não teria valor semântico de posse, uma vez que “o mito não era da posse da Torre de Babel”.

    Recorrentes também consideram a alternativa “B” correta, sob alegação de que não se pode perceber a presença de uma interrogativa indireta na opção “B” e que o pronome que seria um pronome interrogativo em frases afirmativas para nomear dúvida ou ignorância, o que não seria o caso do trecho contido no primeiro parágrafo.

    Contudo, o CRS não deferiu os recursos pelas seguintes razões:

    Alternativa “C”: no contexto e no fragmento em pauta, a preposição "de", tem, de fato, o valor semântico, ou seja, o significado, o sentido de posse. O que está em análise é a preposição de (Torre de Babel), sendo Babel a capital do Império Babilônico, e não da (Mito da). Logo, a preposição de estabelece, junto à palavra Torre, o valor semântico de “posse”. Segundo CEGALLA: “A preposição liga um termo dependente a um termo principal ou subordinante, estabelecendo entre ambos relações de posse, modo, lugar, causa, fim, etc.”.

    Alternativa “B”: razão não assiste ao recorrente. No fragmento em pauta, empregou-se “por que” separado, substituindo as expressões “por qual motivo” ou “por qual razão” – neste caso teremos a preposição “por” seguida do pronome interrogativo “que”. O recorrente, em sua explanação, citando NICOLA e INFANTE, corrobora a correção da alternativa “B”. Dizem os autores: “por que apresenta dois empregos principais: 1) Quando se trata de preposição por + pronome interrogativo (ou indefinido) que, equivalendo a por qual razão(...)”.