10226 Língua Portuguesa > Semântica e estilística > CHO – Prova 2020
O título da crônica, “O engano”, propositadamente, é ambíguo, pois faz referência a duas situações distintas, porém, interligadas. Ao usar esse recurso de linguagem, o autor, Antonio Prata, tem a intenção de levar o leitor à reflexão e ao conhecimento de um fato cotidiano, sério e de importância social. Marque a opção em que o trecho transcrito do texto torna possível a constatação desse fato.

Leia, atentamente, o texto abaixo e, em seguida, responda às questões propostas.

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O ENGANO

Antonio Prata

É ASSOMBROSO que em pleno século 21, 135 anos depois de Graham Bell ter inventado o telefone, ainda haja pessoas incapazes de aceitar esta situação tão banal da vida cotidiana: o engano. Sem dúvida, o leitor sabe do que estou falando: no meio da tarde você atende a uma chamada e, do outro lado da linha, uma voz estranha pergunta: “Alô, Waldemar?”.

Seu nome não é Waldemar. Você não se casou com um Waldemar nem batizou assim qualquer um de seus filhos, de modo que só há uma explicação, simples e evidente: foi engano. Você engole o pequeno mau humor que escorre dos segundos perdidos, aceita a frustração de ter-se imaginado necessário ou querido em algum canto da cidade, no meio da tarde, quando, na verdade, era de um Waldemar que precisavam. Você diz, seco, mas não antipático: “Amigo, aqui não tem nenhum Waldemar: foi engano”, e já está tirando o telefone da orelha, pronto a voltar a seus afazeres, quando a voz ressurge, indignada: “Como assim não tem nenhum Waldemar?”.

Como assim, “como assim?!”?! O que passa pela cabeça do cidadão?

Que você é o Waldemar, mas está mudando a voz e fingindo ser outro só para não atendê-lo? Ou que você é um assaltante e invadiu a casa do Waldemar – que agora tenta gritar, amordaçado e amarrado a uma cadeira: “Mmmm! Mmmm!”?!

Você respira fundo. Sabe que, se for arrancar os cabelos toda vez que lida com seres estranhos, numa cidade como São Paulo, muito rápido estará igual ao Kojak. Diz apenas, paciente e didático: “Olha, amigo, eu não me chamo Waldemar, não mora nenhum Waldemar nesta casa, foi en – ga – no, entendeu?”.

Não, ele não entendeu. Estamos lidando com um maníaco, um homem cuja disfunção neurológica impede de compreender os desvios dos polegares, dos satélites, das linhas telefônicas. Inconsolável, ele se debate: “Mas não pode ser! Me deram esse número! Disseram que era do Waldemar!”. Zen, você insiste: “Amigo, te deram o número errado, ou você teclou errado, sei lá, é muito comum, foi ENGANO!”.

Seguem-se alguns promissores segundos de silêncio. Você acha que ele enfim se convenceu, que desligará o telefone e dirá à mulher “Aurélia, você não sabe que coisa assombrosa! Liguei pro Waldemar e atendeu outro homem!”, mas a voz reaparece, acusatória: “Então, qual é o seu número?!”.

Aí já é demais. Seu número, você não dirá. Não sabe o sujeito que a constituição brasileira garante a presunção da inocência? Não sabe que, de acordo com a velha máxima latina, in dubio pro reu, cabe à acusação provar que você é – ou esconde – o Waldemar e não a você provar que não o é – ou não o esconde?

Catando no fundo da alma a última migalha de generosidade, você pergunta: “Que número você ligou?”. Ele diz o número. Evidentemente, não é o seu. Você mostra para ele o equívoco, “olha aqui, o meu é cinco oito, não três oito, tá vendo?”. Pasmo e contrariado, ele finalmente aceita a situação, despede-se rispidamente e desliga.

Você pode então – Jesus seja louvado! – voltar a seus afazeres, a saber: dar mais um aperto na corda que amarra o Waldemar e continuar o arrombamento do cofre, onde encontram-se os dólares e as joias da Gertrudes.

Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2206201110.htm

a) “[...] dar mais um aperto na corda que amarra o Waldemar e continuar o arrombamento do cofre [...]”.
b) “[...] ainda haja pessoas incapazes de aceitar esta situação tão banal da vida cotidiana: o engano”.
c) “[...] no meio da tarde você atende a uma chamada e, do outro lado da linha, uma voz estranha pergunta: „Alô, Waldemar? ‟”.
d) “[...] desligará o telefone e dirá à mulher „Aurélia, você não sabe que coisa assombrosa! Liguei pro Waldemar e atendeu outro homem! ‟ [...]”.

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    Explicação do Professor:

    Antes de responder a questão vou dar algumas dicas! Quando se deparar com questões de interpretação de texto na prova é importante que o aluno siga essas etapas, com bastante atenção:

    1- Leia o texto cuidadosamente: Leia o texto inteiro com atenção para entender o contexto geral e identificar as informações importantes.
    2- Identifique o propósito do texto: Tente determinar se o autor está tentando informar, persuadir ou entreter.
    3- Procure por palavras-chave: Preste atenção em palavras-chave e frases que possam ajudar a responder as questões.
    4- Releia as questões: Leia as questões cuidadosamente, destacando as palavras-chave e identificando o que a questão está realmente perguntando.
    5- Volte ao texto: Releia as partes relevantes do texto para encontrar a resposta para a questão.
    6- Seja preciso: Certifique-se de que sua resposta corresponde exatamente à pergunta que foi feita.
    7- Verifique suas respostas: Leia as questões e suas respostas para garantir que você respondeu corretamente e de maneira completa.

    Lembre-se de que a prática leva à perfeição. Quanto mais você praticar a interpretação de textos, mais fácil será responder às perguntas com precisão e rapidez.

    Bom, vamos as opções:

    A) CORRETA. A partir da leitura da questão em análise, fica claro entender que a intenção do autor é alertar as pessoas que averiguem situações suspeitas do seu convívio.
    B) INCORRETA. Apenas banaliza a situação do “engano.”
    C) INCORRETA. Ironiza o ladrão estranhar o tom de voz do outro lado da linha uma vez que está na casa da vítima.
    D) INCORRETA. Banalizar ter sido atendido por outra pessoa.